Para
se ter uma ideia de quanto o País perdeu por se aferrar por décadas a uma
mentalidade estatizante nas operações portuárias, basta lembrar que, segundo
dados da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), o setor deverá
receber investimentos da ordem de R$ 44 bilhões num período de cinco a dez
anos.
Esses
recursos são de empresas grandes, médias e pequenas ligadas à ABTP, entidade
que reúne 84 filiados. E, dependendo do pacote que o governo federal promete
lançar com novas aberturas para uma efetiva reforma portuária, esses recursos
poderão crescer, desde que sejam afastados empecilhos que causam insegurança
jurídica e sejam reduzidas ou eliminadas taxações que já não se justificam nos
dias de hoje.
Se
o leitor ainda tiver dúvida sobre o quanto essa mentalidade retrógrada e
burocrática prejudicou o desenvolvimento do País, especificamente no setor
portuário, é de lembrar ainda que dos R$ 30 bilhões que estão sendo aplicados
em portos brasileiros, R$ 21 bilhões são de investimentos privados. Sem a
participação da iniciativa privada, a situação dos portos hoje seria ainda mais
caótica.
Só
como exemplo pode-se citar que Copersucar, LLX e Vale são empresas que estão
construindo terminais privativos para a exportação de matérias-primas. A
Petrobras, empresa estatal de economia mista, também ergue terminal para o mesmo
fim. Em grande parte, esses investimentos são no Porto de Santos, responsável
por praticamente 30% das exportações e importações do País.
Para
que outras empresas sigam esse exemplo falta, porém, que o governo mude o atual
modelo anacrônico que deixa o setor portuário engessado com normas que impedem
que as companhias docas utilizem recursos como qualquer empresa. Em outras
palavras: o que os portos precisam é de uma administração eficiente, o que se
dá apenas com a participação do capital privado. Portanto, a saída seria a
adoção de parcerias público-privadas (PPPs) para as companhias docas.
Com
isso, as companhias docas deixariam de constituir moeda de troca no jogo
político em que as estatais são divididas por zonas de influência e sujeitas
aos interesses dos caciques que mandam nos partidos. Esse é um modelo típico de
país atrasado que só envergonha o Brasil no concerto das nações.
Outro
obstáculo que impede o desatamento dos nós que emperram o setor é o excesso de
órgãos públicos que participam das atividades ligadas aos portos e aduanas. Uma
saída pode ser o banco de dados que o governo está projetando para pautar a
atuação da Agência Nacional de transportes
Aquaviários (Antaq), da Receita Federal, dos ministérios da Marinha, da
Agricultura e da Justiça (Polícia Federal) e da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). Com esse banco de dados único, o governo espera – e a
comunidade portuária também – que o tempo de desembaraço de mercadoria desça da
atual média de 5,7 dias para 2,7 dias, o que seria equivalente ao padrão
mundial.
Seja
como for, o que se almeja é que essas mudanças não dependam de um projeto de
lei que tenha de passar por muitas instâncias no Congresso Nacional, pois, se
isso vier a ocorrer, com certeza, essa reforma poderá demorar meses, anos e até
mesmo cair para as calendas gregas. Mesmo porque o governo federal tem
competência para criar esse novo marco regulatório. E a situação é tão
complicada que não há mais tempo a perder.
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