terça-feira, 5 de outubro de 2010

Perfil da Logistica em Pernambuco


O segmento da logística tem sofrido grandes transformações nos últimos 20 anos em todo o mundo. Devido à globalização, a logística de muitos países que ainda estava voltada para o mercado interno teve que se modernizar e ampliar sua área de atuação. O Brasil não foi exceção à regra. O presidente e também fundador do Grupo de Estudos da Logística de Pernambuco (Gelpe), Osvald Moz, é um dos entusiastas da logística nacional.

Por mais que seja comum se ouvir afirmar que os países subdesenvolvidos ainda estão 15 anos aquém da logística moderna, Moz mantém sua opinião otimista: “Hoje, com a tecnologia, se pode encurtar muito esta diferença. A tecnologia que propicia modernidade e eficiência a todo processo logístico está à disposição não somente nos países ricos. Ela tem um custo de investimento, claro, mas assim mesmo está à disposição também para nós, basta sabermos investir no futuro”, explica Moz. Hoje, no Brasil, muitas empresas que atuam como servidores logísticos, operadoras e transportadoras, já dispõem de tecnologia de primeiro mundo. 

Muitas delas, inclusive, estão instaladas em Pernambuco, no Pólo de Jaboatão, que tem se desenvolvido com grande velocidade nos últimos anos, tornando-se um dos principais do país. Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Movimentação e Logística – ABML, Marcio Frugiuele, “Pernambuco com certeza terá grande importância na caminhada rumo ao futuro da logística brasileira, pois tem pensado a logística com planejamento e ações práticas. Não é à toa que importantes empresas do setor logístico estão buscando o Estado para fincar bases de operação.” Infra-estrutura - Diversos fatores contribuíram para o boom da logística pernambucana. 

A começar pela localização privilegiada. O Pólo de Jaboatão, ou da Muribeca, como também é conhecido, está estrategicamente posicionado num ponto de confluência entre a BR-101 Norte e Sul, e também próximo ao aeroporto e ao Porto de Suape. Num raio de 900 km de Fortaleza a Salvador, onde se concentra mais de 80% do PIB nordestino, Recife encontra-se no epicentro. Estamos também próximos de portos como o de Nova Iorque (EUA), Roterdã (Holanda) e Durban (África do Sul), sendo este último ponto de passagem para a Ásia. 

Além da localização, Pernambuco é um Estado onde a economia é baseada em serviços voltados para o comércio e transporte de cargas. Portanto, sempre teve um comércio muito forte. Outro fator definitivo para a consolidação do pólo logístico local foram os investimentos por parte do Governo do Estado em infra-estrutura. Com uma profundidade de 15,5 metros, o moderno Porto de Suape hoje já opera com supercargueiros e embarcações full containeres de grande porte com capacidade de até 6 mil containeres. O terminal de contêneires-Tecon, tem potencial para operar até 400 mil containeres anuais. 

O Recife também ganhou um novo aeroporto, que não somente trouxe mais conforto e modernidade e aumentou sua capacidade de embarque e desembarque de pessoas de 1,5 milhão para 5 milhões de pessoas por ano. Ele também aumentou o fluxo de cargas devido à ampliação da pista para 3.300 metros de extensão, a maior de todo o Nordeste, o que possibilita a recepção de qualquer tipo de aeronave cargueira em uso na aviação comercial, inclusive o modelo de maior capacidade do mundo, o Jumbo 747-400. Petrolina - Um dos desafios da logística em Pernambuco é ligar os pólos produtores do interior do Estado ao Recife ou outros pólos distribuidores. 

A duplicação e recuperação da BR-232 e da PE-15 muito contribuíram neste sentido, mas muito ainda precisa ser feito. Petrolina, cidade pernambucana localizada no centro do Nordeste e a 700 km do Recife, é um dos principais pólos produtores da região e a maior exportadora de frutas do país, com a produção cultivada no vale do Rio São Francisco chegando anualmente a um milhão de toneladas. Com a recente reforma do Aeroporto Nilo de Sousa Coelho, houve um ganho na velocidade de escoação, possibilitando o aumento das exportações e na própria demanda de produção. 

O aeroporto hoje conta com uma infra-estrutura moderna para o transporte de cargas, e tem a segunda maior pista de decolagem do Nordeste. Isto possibilitou o escoamento das frutas diretamente para Miami, Nova Iorque, Londres e Paris, sem escalas, condição imprescindível já que se tratam de materiais rapidamente perecíveis. Por esta razão, o aeroporto foi equipado com seis câmeras frigoríficas, com capacidade de armazenamento de 17 mil caixas cada uma, e dois túneis de resfriamento. 

Foram construídas docas e a antecâmara do terminal recebeu climatização para evitar que as frutas sofram choque térmico ao sair da temperatura ambiente, que varia entre 32oC e 38oC, para as câmaras frigoríficas, entre –2oC e 8oC. Semanalmente, um avião cargueiro dos de maior capacidade, 110 toneladas, pousa em Petrolina. A previsão da Infraero é de que a partir do próximo mês sejam dois por semana. A maior dificuldade, porém, ainda é o alto custo deste transporte, principalmente porque as aeronaves chegam vazias na cidade para que voltem carregadas com as frutas, e esta viagem de ida também precisa ser paga. 

Um projeto muito arrojado, porém, pretende solucionar este problema e trazer ainda mais prosperidade para a região. A idéia é transformar o aeroporto de Petrolina em um aeroporto-indústria. Através de benefícios fiscais e logísticos, ele se transformaria numa zona franca, cujos benefícios trariam uma redução de até 30% nos custos das empresas. O projeto prevê incentivo a empresas de tecnologia e de montagem de aparelhos eletrônicos para que montem seus parques industriais dentro do aeroporto. 

Com isso, o fluxo de carga teria entrada, já que se importariam os insumos. Estes produtos de ponta viriam da Europa e os mesmos aviões voltariam para estes países com as frutas de Petrolina. Desafios - Além de Petrolina, diversas outras cidades pernambucanas têm se destacado como pólos produtores, a exemplo de Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama, com o pólo têxtil, e Araripina, com o gesso e a gipsita. 

O potencial comercial destas cidades é muito grande, mas não tem sido otimizado devido às dificuldades de escoamento da produção. Elas dependem quase que exclusivamente do conturbado transporte rodoviário, já que não contam com um aeroporto moderno, e os transportes ferroviários e hidroviários são extremamente reduzidos. 

Mesmo com as recentes reformas, as estradas pernambucanas, que sempre foram conhecidas pela má condição em que se encontram, continuam a ser um grande desafio. “Nossa malha rodoviária ainda encontra-se cheia de buracos e não existe sinalização. A reforma da BR-232 foi um grande avanço, mas a sua continuidade é muito importante para o avanço do Estado”, opina Osvaldo Moz. Um projeto já antigo, planejado inicialmente no século XIX, vai contribuir muito significamente com o plano de logística regional. 

Trata-se da tão esperada ferrovia Transnordestina, que vai permitir a ligação dos portos de Suape e Pecém por estradas de ferro, entre outras facilidades. As principais vantagens do transporte ferroviário são a eficiência e o baixo custo, com o valor do frete mais baixo. Por isso, é o transporte mais utilizado em países de dimensões continentais, como China e Estados Unidos, e é nele que o Brasil também passará a investir, com a recente aprovação pelo Governo Federal. 

O pólo gesseiro de Araripina, por exemplo, só é competitivo no Brasil. Mas se a Transnordestina já estivesse implementada, os custos logísticos estariam reduzidos a 50%, o que permitiria concorrer junto aos maiores mercados mundiais. O projeto, porém, não poderá ser concluído em curto prazo. As atuais linhas não poderão ser aproveitadas já que possuem muitas curvas, declives e aclives, e por isso, funcionam a apenas 20 km/h. “Mesmo com todos os recentes avanços em nossa infra-estrutura, a melhoria somente estará completa quando tivermos todos os modais integrados e em plenitude de operação”, alerta o professor universitário e consultor de empresas especializado em logística, Marcílio Cunha. 

Gelpe Não se pode falar da logística pernambucana sem citar o Grupo de Estudos da Logística – Gelpe. Criado há cinco anos, ele teve uma grande importância neste avanço da logística local. Através do Gelpe, profissionais locais passaram a ser capacitados para que não acontecesse mais o que era muito comum no passado: os cargos de alto nível eram sempre ocupados por profissionais de outra região. 

Além de mini cursos, a cada 15 dias a instituição passou a conferir uma palestra. A cada cinco palestras assistidas, o profissional ganha um certificado. Ao longo dos 5 anos, mais de 2500 foram beneficiados. “Com isso, além de capacitá-los, nós conseguimos desenvolver uma rede de relacionamento entre eles”, comemora Moz. Através do Gelpe também foi criado um banco de dados de profissionais, que têm seus currículos avaliados e encaminhados para empresas que oferecem vagas. 

A conseqüência desse trabalho foi muito positiva. Começaram a surgir na região cursos superiores e MBA´s voltados para a área de logística. No último mês de maio, foi realizada no Centro de Convenções de Pernambuco a I Feira de Transporte Intermodal e Logística. Foi a primeira do Nordeste e contou com mais de 70 expositores nacionais e internacionais e 7 mil visitantes. Somente em vendas de equipamentos, a feira movimentou mais de 5 milhões de reais em apenas 4 dias. Ao todo foram 15 milhões de reais movimentados. 

De acordo com Moz, devido ao sucesso desta primeira edição, já ficou certo que ela será realizada anualmente, sempre aqui em Pernambuco. Em 2006 o evento já contará com o dobro de expositores. “O Gelpe tem alcançado uma conquista muito grande e muito difícil, que é a mudança da mentalidade local. Graças a este recente crescimento da logística local, os profissionais estão amadurecendo, estamos gerando competitividade e atraindo cada vez mais empresas e investidores. Acredito que este é o caminho do desenvolvimento”, confessa Moz, e finaliza: “Eu vim de São Paulo para Pernambuco e não tenho intenções de voltar porque acredito muito no sucesso da logística local”.


Fonte: Revista Negócios - SA

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