ARMADORES
REAJUSTAM FRETE PARA RECUPERAR MARGEM
Os
maiores armadores do mundo no transporte marítimo de contêineres começaram
ontem uma rodada global de aumento de fretes que vai abranger também a maioria
dos tráfegos com o Brasil. Os reajustes variam por armador, rota, sentido da
rota - exportação ou importação -, e por tamanho de contêiner, indo de US$ 100
a US$ 750 por unidade.
A primeira razão para a alta é estrutural: os armadores estão
com um custo adicional para posicionar
contêineres vazios para atender
exportações brasileiras, pois a viagem que historicamente pagava as rotas com o
país era a importação - que implodiu com a crise. Outra é conjuntural. As
exportações estão crescendo, resultado da apreciação do dólar. Isso, aliado à
retirada de espaço nas linhas para ajustar oferta e demanda nos navios,
permitiu o reajuste dos fretes.
Aproximadamente 95% do comércio exterior brasileiro em volume
é feito via marítima. O transporte regular, realizado em contêineres - onde
estão as cargas de maior valor agregado -, é dominado por companhias
estrangeiras. A negociação do preço do serviço é livre entre o transportador e
o dono da carga (o embarcador).
"O aumento é para minimizar as perdas, não vai
repô-las", diz um executivo da navegação que pede confidencialidade. Como
exemplo, ele cita que há dois anos o frete de um contêiner de 40 pés (chamado
de "Feu", na sigla em inglês) estufado com frango saindo do porto de
Santos (SP) para Hong Kong (China) estava em US$ 2,4 mil. Hoje sai a US$ 1,5
mil. Nesta rota os aumentos apurados pelo Valor válidos desde ontem variam de
US$ 200 a US$ 700.
Entre o fim de 2010 e hoje o valor médio dos fretes de
exportação do Brasil para todos os destinos caiu entre 40% a 50%, diz a Hamburg
Süd, líder nos tráfegos com o Brasil. "Obviamente isso é um baque",
afirma Julian Thomas, diretor-superintendente no Brasil do armador. "Já
fizemos tudo o que pudemos, só podemos aumentar o frete para compensar o
desenvolvimento negativo das receitas."
Nos embarques a partir da Costa Leste da América do Sul, a
companhia está aumentando o preço da viagem para a Europa, para o Extremo
Oriente, para a Costa Leste dos Estados Unidos e para o Oriente Médio, com
valores de US$ 300 e US$ 500 por Teu (contêiner de 20 pés) e Feu,
respectivamente.
"O aumento não é impositivo, é apenas indicativo,
depende da negociação. E normalmente é feito em passos", diz Thomas, num
aceno de que novas altas podem vir. "É cedo para falar disso, temos de ver
como o mercado reage, é uma relação de oferta e demanda", afirma.
Na Maersk Line, líder mundial da navegação, parte dos
reajustes já ocorreu. O maior foi na importação da Ásia para a Costa Leste da
América do Sul, que subiu em US$ 850 por Teu e em US$ 1,7 mil por Feu em 1º de
março. Desde então essa viagem teve mais três altas - duas em abril e outra
ontem.
"A indústria como um todo dá liberdade de o cliente
assinar um contrato de longo prazo [onde é possível negociar melhores
condições] ou um 'spot'", diz João Momesso, diretor de trade e marketing
da Maersk Line no Brasil. "O mercado da navegação perdeu muito dinheiro em
2015", diz. A Maersk Line reduziu o lucro líquido mundial em 44% em 2015,
para US$ 1,3 bilhão, devido à fraca demanda global e fretes baixos. "É
muito importante que os armadores consigam achar maneiras sustentáveis de se
manter no negócio. Os fretes, onde estavam, eram totalmente
insustentáveis."
Para o especialista em transporte marítimo Leandro Barreto as
estatísticas mostram que os fretes de fato caíram, afetando os resultados
financeiros da indústria. "O aumento é questão de sobrevivência. Por outro
lado há de se convir que os armadores tiveram economias de escalas importantes
nos últimos anos com o aumento dos tamanhos dos navios", pondera.
Também o armador alemão Hapag Lloyd, que em 2015 reverteu o
prejuízo do ano anterior, aplicou aumentos escalonados. Só na importação da
Ásia para a Costa Leste da América Latina, uma das rotas mais importantes do
comércio com o Brasil, foram quatro neste ano, o último no valor de US$ 750 por
Teu, em vigor desde ontem. A empresa não quis falar.
Fonte:
Portos e Navios.
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