segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A logística que causa fome



Falávamos sobre logística no desenvolvimento mundial quando surgiu uma discussão muito interessante sobre a importância da logística no desenvolvimento econômico de países “desfavorecidos”. Veio então, a pergunta: A Logística Organizacional Integrada contribui com a fome em alguns países?


Com cerca de um bilhão de pessoas passando fome no mundo (e isso não se restringe apenas à África e à Ásia) e, segundo a FAO (Agência para Alimentação e Agricultura) ligada à ONU (Organização das Nações Unidas) dezesseis mil crianças com menos de cinco anos de idade morrem todos os dias por consequências da fome no mundo, é algo que merece atenção.

De início, achei um absurdo pensar nesse questionamento. A logística em que atuo é algo muito bom. Ela é a solução e não o problema. É inconcebível pensar na logística como algo que venha a prejudicar pessoas e promover a fome.

Não havia pensado que para se consolidar a logística precisa ainda ultrapassar tantas barreiras, inclusive a maior: Saber que, a logística, algo tão bom, é conduzida de forma tão desigual por economias unilateralistas e tolhida por políticas públicas que privam países inteiros do benefício da qualidade de vida.

É sabido que paradoxos surgem sempre que tentamos unir desenvolvimento econômico com qualidade de vida. Afinal, em muitos casos, o comércio deixou de ser lucro em mão dupla e a exploração de mão-de-obra e de matérias-primas passou a ser um ponto crítico e ameaçador para o equilíbrio social do Planeta.

Quando escrevi “Consumo Inteligente: Saber Consumir é uma Arte”, onde se fala da dicotomia da tecnologia em expansionista e inteligente, estava lá parte da minha resposta para essa pergunta incômoda. Exatamente num crescimento desordenado em que a logística é usada (mal usada) para promover tal crescimento baseado no consumismo.

Mas a logística que me encanta não é para isso. Infelizmente, como tudo que é bom, também pode ser usada de forma incorreta por aqueles que a distorcem e buscam interesses próprios. O problema é que falamos de países; muitos países… grandes países.

Quando a logística foi extraída do contexto das guerras, trouxe, para alguns, um pouco da razão de “ferir” em sua nova condição. Embora abdicando de armas, desenvolveu novas ferramentas. Mas, vale dizer que, isso ocorre nas cabeças distorcidas daqueles que acolhem a logística para condicioná-la a uma atividade que lhes gerem lucros indiscriminados.

Assim como a matemática e a física que foram usadas para desenvolver bombas atômicas, a logística não estaria livre disso.

Entretanto, é necessário entender como se dá essa “contribuição” da logística para a ascensão de países ricos e para a fome em países pobres:

A competitividade é cada vez mais presente no mercado globalizado. As empresas lutam para conquistar e fidelizar seus clientes que, cada vez mais exigentes, impulsionam o mercado para uma prática de inovação – Até aqui, nada mais natural e bom.

Com isso, diminui-se o ciclo de vida dos produtos e obrigam-se as empresas a buscarem novas técnicas de gestão logística. Em muitos casos (e aqui começa a parte ruim), os produtos se tornaram commodities (produtos primários) e os países com monoculturas não desenvolveram tecnologias de produção e logística para incrementar suas economias.

 Os países mais desenvolvidos passaram a utilizar-se desses produtos em suas indústrias.

 Acontece que as commodities têm seus preços fixados pelo mercado importador. Isso significa falta de recursos para o desenvolvimento tecnológico dos países produtores para que possa lhes colocar em uma situação melhor perante seus “concorrentes” e, ajudados por uma política pública ineficaz, se desenvolve uma condição de dependência que beira à exploração, levando países inteiros à falência e expondo seus habitantes às condições desumanas. Instala-se a fome.

Claro que estamos falando de fatores econômicos e não podemos esquecer que as causas da fome são várias e antigas, como conflitos armados, desigualdades sociais, entre outros.

O Brasil, durante décadas, exportou só o café, mas vem conseguindo diversificar seu comércio. O País está muito à frente de vários países africanos, asiáticos e também sul-americanos, mas também sofre com esse problema, principalmente com combustíveis.

Mesmo auto-suficiente em petróleo cru, não tem um parque industrial suficiente para nossa demanda de combustíveis, principalmente de gasolina, o que nos leva a amargar um preço fixado por um desenvolvimento logístico melhor que o nosso, alimentado por motivos claros e outros obtusos.

Seguindo essa linha, poderíamos concluir que a logística contribui para situações desiguais na economia mundial devido suas possibilidades de reduzir os custos de produção e de distribuição. Mas observa-se um contra-senso:

A logística só o faz devido às inúmeras possibilidades inovadoras no desenvolvimento que propõe com um extenso pacote de soluções e mudanças. Se mudanças boas ou más, nós decidimos. Não existe logística boa ou má. Ela não se divide. Por isso a defendo, pois isso me encanta.

Me encanta, porém não me ilude. Sei que ainda há muito que mudar. Principalmente, a intenção do homem.


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