O mercado passa por maus bocados e o setor logístico é um dos
últimos a sentir esses impactos devido à sua amplitude. A logística, vital em todas as áreas da economia, já sofre
constantemente pela falta de investimentos públicos e por certo desprezo, até
mesmo por parte do empresariado nacional, quanto ao enorme potencial de
soluções que o setor guarda e aguarda ser explorado. Numa crise
como a que
atravessamos atualmente, a desaceleração nesse segmento é sentida quando atinge
seu ponto mais incerto: o da reacomodação. E esse momento chegou.
Suponhamos
então, que o Brasil seja um ônibus que quebrou brecando bruscamente e, após os
sustos e o tempo que levamos para saber o porquê da freada, se estamos inteiros
e se estamos no nosso lugar – sem contar o tempo de xingamento reservado ao
motorista – agora começamos a traçar novas metas e redesenhar nossos planos
para alcançarmos nossos objetivos. E aqui os setores se diferenciam: há aqueles
que podem pegar um táxi, mas não há táxis para todos; há aqueles que pensam no
metrô, mas a estação pode estar longe; há aqueles que resolvem seguir a pé, mas
muitos se cansarão no caminho e ainda há aqueles que ficarão esperando até que
tentem consertar o ônibus e este possa seguir seu rumo. Que o ônibus será
consertado não há nenhuma dúvida. Quem tem lá seus cinquenta anos de idade já
passou por muitos sustos desse tipo. Contudo, a espera é mais perigosa e
desgastante do que todas as alternativas que contribuem para um conserto mais
rápido.
Na prática, o mercado busca novas rotas, novas praças, novos
públicos e é agora que a logística de armazenagem e de transportes passa a ser ainda mais sufocada.
Infelizmente, muitas empresas buscam a redução dos custos do transporte antes mesmo da busca pela redução de
seus custos de produção. E o que vemos são transportadoras regularizadas
perdendo mercado para o “transporte cru” – aquele sem seguro e sem o
cumprimento de deveres legais que, geralmente, queima o preço no mercado e traz
consequências que levam tempo e mais reduções de margens para serem
contornadas.
Não é novidade que 2016 será um ano difícil. Mas, para a
logística em especial, será um ano ainda mais complicado, pois enquanto os
outros setores já buscaram seu rumo – na metáfora do ônibus – uma grande parte
do segmento logístico precisa ficar por perto para consertá-lo: é o caso do
setor automotivo que diminui suas atividades, do setor de obras que também cai
drasticamente e tantos outros. Aí quem transporta numa outra faixa do mercado
também é atingido já que uma parte dessa frota migra para outros segmentos
causando aquele efeito “baleia de água doce”, que é tão somente a tentativa de
sobrevivência no mercado que causa desequilíbrio embora encarar os desafios
seja legítimo e necessário.
É, 2016 tem um desenho desfavorável para vários segmentos
logísticos. A começar por aqueles cuja infraestrutura perdeu o rumo totalmente.
O governo expôs suas dificuldades para cumprir planos essenciais e cortou o
orçamento para 2016. Não há dúvidas de que tudo isso atingirá em cheio o
Programa de Investimentos em Logística (PIL) que, como comentado aqui, possuía
metas inatingíveis em 2015 – que realmente não foram atingidas – e desenhava a
mesma ambição para 2016. Aconteceu que no primeiro semestre de 2015 houve, com
números já confirmados, uma repetida queda nos investimentos em infraestrutura.
O semestre registrou apenas 0,33% do Produto Interno Bruto (PIB) investidos em
obras de transporte, saneamento, energia e de telecomunicações, segundo estudos
da Inter.B Consultoria. Os números do segundo semestre de 2015 não devem ficar
muito diferentes, embora eu acredite na superação do primeiro, ainda será o
pior ano para a logística em termos de investimentos em infraestrutura.
O Brasil, na década de 70, já chegou a investir 10% do PIB.
Na década passada esse percentual chegava a 2% e veio caindo consecutivamente.
Lembrado que nossos custos logísticos são de 12% do PIB. Para assegurar nossa
competitividade, precisaríamos investir anualmente 4% nos próximos oito ou dez
anos. Mas, com o infame declínio dos números e da infeliz visão sobre a
importância dos investimentos em logística, não se espera para 2016 números
diferentes e a queda no percentual fará parte do cenário. Até porque vale
lembrar também que o ano começa com os velhos assuntos do impeachment da
presidente da República e da cassação do presidente da Câmara dos Deputados.
Enquanto isso estará se arrastando por Brasília, começará no Rio de Janeiro as
Olimpíadas e depois já estaremos respirando as eleições municipais. E os
investimentos em logística? Ah, fica para depois!…
Fonte: Logística Descomplicada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário