Os sócios do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) estão envolvidos
em um intrincado jogo de xadrez que envolve dois movimentos simultâneos, vitais
para a sobrevivência do negócio. Um deles é a entrada do novo sócio
estratégico, após a saída da coreana Samsung, negociação que está mais avançada
com as japonesas Mitsui, associada à IHI, e Mitsubishi. Dois outros grupos
estão no páreo: um estaleiro polonês e outro de origem coreana. O segundo
movimento passa pela renegociação do prazo – fixado até 2016 – de entrega dos
22 petroleiros encomendados pela Transpetro em um pacote de R$ 7 bilhões.
Apenas o João Cândido, o primeiro de um lote de dez navios
tipo Suezmax encomendados por R$ 2,75 bilhões, tem atraso de um ano e meio.
Teria que ter sido entregue em setembro de 2010, mas até hoje, depois de
sucessivos adiamentos, continua no estaleiro. Agora, extra-oficialmente,
comenta-se que poderá ser entregue no fim de abril. Estimativas de mercado
indicam que o João Cândido não sairá por menos de R$ 350 milhões, aumento de
23% sobre a média do contrato original.
Antes de renegociar prazos de entrega dos navios, o EAS
corre para fechar a entrada do novo sócio com de cerca de 33% do capital do
estaleiro [a Samsung tinha 6%], o que na expectativa de uma fonte pode ocorrer
o mais breve possível. Além dos japoneses, apontados como favoritos, correm por
fora a polonesa Remontowa, com estaleiro em Gdansk e considerada uma dos líderes
europeias em reparação de navios, e a coreana STX. O problema dos coreanos,
como o caso da Samsung deixou claro, está na falta de disposição para repassar
tecnologia para a construção das sete sondas de perfuração, outro dos contratos
na carteira do EAS, este no valor de US$ 5,2 bilhões.
A renegociação que o EAS terá que fazer envolve dois pontos
básicos: a multa prevista em contrato por atrasos e o encarecimento do
financiamento bancário do projeto como consequência da demora na entrega dos
navios. Uma fonte do setor disse ao Valor que o EAS pode
tentar discutir com a Transpetro o não pagamento das multas, que costumam ser
aplicadas depois da entrega do navio. O problema é que, conforme a multa, a
Transpetro, pode decidir rescindir o contrato.
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No setor, acredita-se que o EAS tem condições de fazer os
navios em função da estrutura moderna que montou no complexo industrial de
Suape (PE), com uma linha de montagem apta a processar 160 mil toneladas de aço
por ano. Com isso, em tese, poderia fazer oito Suezmax por ano, considerando,
em média, o uso de 20 mil toneladas por navio. Tem contratos para fazer 14
Suezmax e oito navios do tipo Aframax. Desse total, só quatro estão em
construção efetiva.
A questão é saber se o estaleiro conseguirá resolver os
problemas de gestão, produtividade e mão de obra que o levaram a essa situação
crítica. O investimento enterrado no EAS já soma cerca de R$ 3 bilhões, sendo
R$ 1,2 bilhão do BNDES e o restante dos sócios Camargo Corrêa e Queiróz Galvão,
agora donos do EAS com 50% cada um.
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O EAS enfrentou três problemas básicos na avaliação de uma
fonte próxima de um dos sócios: instalação simultânea à construção do primeiro
navio (uma exigência da Transpetro para conceder o contrato), formação de mão
de obra – de 6 mil soldadores treinados, muitos com origem do setor canavieiro,
apenas 2 mil mostraram aptidão, levando a uma forte queda na produtividade – e
a parceria com a Samsung, mal costurada, o que demandou cinco meses para
retirá-la do EAS.
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