Países do Sudeste Asiático estão recorrendo ao açúcar
brasileiro para escapar de um aperto na oferta da região, provocado tanto pela
quebra de safra em importantes polos produtores e exportadores quanto pelo
contrabando da commodity para a China.
Recentemente, navios com bandeiras de tradicionais
importadores de açúcar da Tailândia nesta época do ano - como Malásia,
Bangladesh e Indonésia - encostaram nos portos brasileiros à espera de
carregamentos do produto. Até a Índia, que chegou a exportar açúcar no ano
passado, teve que recorrer ao Brasil.
A demanda do Sudeste Asiático
pelo açúcar brasileiro tem chamado a atenção desde fevereiro, quando o
Centro-Sul ainda estava na entressafra. Entre aquele mês e abril, os embarques
nacionais para e região somaram 367 mil toneladas, 87% mais do que o volume
médio exportado nesse período nos últimos três anos, de acordo com levantamento
feito pela consultoria FCStone a pedido do Valor.
Considerando os preços médios de
exportação do açúcar bruto nesse período indicados pela Secretaria de Comércio
Exterior (Secex/Mdic), esses embarques representaram uma receita superior a US$
107 milhões.
Embora o volume movimentado ainda
seja pequeno frente ao que o Brasil deve exportar nesta safra, esse crescimento
foi possível porque o açúcar brasileiro se tornou uma alternativa mais barata
que o produto tailandês. A Tailândia é o segundo maior exportador global de
açúcar, atrás do Brasil, e está mais perto desses centros consumidores. Mas o
produto que circula em seus portos está sendo negociado com prêmios elevados.
Segundo a FCStone, o açúcar
tailandês de alta polarização (HP) é negociado com um prêmio de 126 pontos
sobre o contrato de açúcar demerara com vencimento em julho na bolsa de Nova
York. Ontem, esses papéis fecharam cotados a 17,42 centavos de dólar a
libra-peso. Nas últimas duas safras, o prêmio cobrado nesta época do ano
oscilou entre 20 e 30 pontos.
Já no porto de Santos, por onde é
escoado 80% do açúcar exportado pelo Brasil, o açúcar VHP (polarização muito
alta) é negociado, desde março, com desconto de 10 a 20 pontos em relação ao
mesmo contrato na bolsa americana
"O preço alto na Tailândia
tem direcionado a demanda global para o Brasil", afirmou João Botelho,
analista da FCStone. O diferencial é tamanho que mesmo países que têm vantagem
tarifária para importar açúcar tailandês, como é o caso da Indonésia, estão
direcionando seus navios ao Brasil.
Um dos motivos para a elevação
dos preços da commodity na Tailândia é a quebra da safra local, estimada pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 10% no atual ciclo
2015/16 - para 9,74 milhões de toneladas -, após uma forte seca no ano passado.
Mas o próprio órgão prevê que os embarques do país não serão afetados,
projetando um aumento de 6%, para 8,8 milhões de toneladas. Mesmo assim, a
menor oferta tem encarecido o produto para o exterior.
Outra razão é a sangria provocada
pelo aumento do contrabando de açúcar para a China neste ano - que pode ter
chegado a cerca de 1,2 milhão de toneladas do comércio global nas contas de
Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
Em 2015, o governo chinês passou
a regular a liberação de licenças de importação de açúcar, retirando a
automaticidade do processo justamente em um momento de quebra de safra no país.
Como uma quantidade elevada de açúcar que as refinarias já tinham contratado
ficou parada no porto, "os comerciantes de Mianmar começaram a comprar da
Índia e da Tailândia para colocar o produto ilegalmente na China [por terra]
entre os meses de janeiro e março", disse Botelho.
A Tailândia chegou a exportar,
apenas por navio, quatro vezes mais açúcar para Mianmar durante seu período de
safra (de novembro do ano passado a março deste ano). O volume, de 356 mil
toneladas, porém, indica apenas uma parcela do que pode ter sido contrabandeado
à China via Mianmar, uma vez que não há registros da quantidade exportada por
terra.
A Índia chegou a responder por um
volume bem maior exportado para Mianmar, com 958,3 mil toneladas embarcadas
entre seu período de safra (de outubro a fevereiro), contra apenas mil
toneladas enviadas ao país vizinho no mesmo período da safra anterior.
Parte desse açúcar foi originada
inclusive no Brasil, uma vez que a produção indiana também foi afetada pela
seca, segundo o analista da FCStone. O Brasil tem sido um importante fornecedor
da Índia. Embarcou, de janeiro a abril, 513,4 mil toneladas, o triplo do total
do mesmo período de 2015.
Além das nações do Sudeste
Asiático, outros compradores que costumam importar açúcar da Tailândia também
estão recorrendo mais ao Brasil nos últimos meses. É o caso de países do
Oriente Médio e do norte da África, que também importaram um volume acima da
média desde janeiro. Conforme a FCStone, o Brasil exportou para essas duas
regiões 3,1 milhões de toneladas de açúcar, 14% acima do volume médio embarcado
nesse período nos três anos anteriores.
Fonte:
Valor
Econômico
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